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Falas soltas e confusas? Falas descontextualizadas?

Falas inapropriadas? Dificuldades de compreensão? Isso pode ser um Distúrbio Semântico-Pragmático...

Crianças que apresentam alterações específicas no desenvolvimento da linguagem podem ser diagnosticadas com Distúrbio Específico da Linguagem, uma alteração persistente, na qual, aparentemente a criança não possui nenhum problema que justifique suas dificuldades (ouve bem, não tem nenhum problema emocional, é inteligente, não tem nenhum problema neurológico, não possui nenhuma limitação nos órgãos responsáveis pela produção da fala, etc), mas não consegue desenvolver a linguagem conforme o esperado.

Uma das características das crianças com Distúrbio Específico de Linguagem é a heterogeneidade que caracteriza o quadro, ou seja, estas crianças podem apresentar dificuldades variadas na linguagem. Por exemplo, algumas possuem dificuldade significativa para aprender novas palavras (vocabulário restrito), outras não conseguem produzir adequadamente as frases (déficit gramatical), outras apresentam muita dificuldade para adquirir os sons da fala (alterações fonológicas). E existem, outras que apresentam déficits específicos nos aspectos funcionais da comunicação conhecidos como alterações nos aspectos pragmáticos da linguagem. Esta alteração é descrita como Distúrbio Semântico-Pragmático (“Semantic Pragmatic Disorder”) ou, mais atualmente conhecida como Distúrbio Pragmático da Linguagem (“Pragmatic Language Impairment”, PLI).

Conheça algumas características de crianças ou adolescentes com Distúrbio Semântico-Pragmático:

  • Dificuldade para compreender perguntas;
  • Dificuldade para compreender escolhas ou tomar uma decisão;
  • Dificuldade para manter uma conversa. O conteúdo de suas conversas tem sido descrito como “estranho”,  “solto/perdido”, “tangencial”, “irrelevante” e “inapropriado”.
  • Pobre habilidade de troca de turno, dificuldade em manter o tópico ou tema da conversa;
  • Dificuldade de compreensão (apresentam compreensão literal);
  • Habilidade para inferências restrita ou atrasada;
  • Não compreende piadas, sátiras, expressões idiomáticas ou com duplo-sentido (por exemplo, quando  questionada: “o que significa, aquela mulher tem o rei na barriga?”, pode responder: “significa que o rei está  dentro da barriga dela”
  • Perseverações (repete várias vezes o que já falou);
  • Dificuldade com tempos verbais e com pronomes;
  • Dificuldade para explicar ou descrever um evento;
  • Preferência por situações concretas (dificuldade em lidar com situações abstratas ou imaginárias);
  • Dificuldade de compreensão de leitura (lê, mas não compreende o que leu);
  • Apesar das dificuldades, os pais em geral, descrevem-nos, como crianças tagarelas;
  • Devido às dificuldades de linguagem, podem apresentar dificuldades na escola e de socialização (geralmente  não tem amigos ou são considerados “esquisitos” ou até mesmo “chatos” pelas outras crianças);
  • Dificuldade para compreender comentários ofensivos (muitas vezes, é alvo de piadas ou comentários  ofensivos, mas não entende o significado disso).
  • Pobre habilidade para relatar fatos e histórias com coerência;

É comum encontrar, crianças ou adolescentes com Distúrbio Semântico-Pragmático sendo diagnosticados com Autismo ou Síndrome de Asperger. Isso porque algumas características são parecidas nestes quadros. Nestas três condições, os aspectos funcionais e sociais da comunicação estão alterados, mas é importante diferenciar as características específicas de cada uma.

De acordo com Bishop e Norbury (2002), as crianças com Distúrbio Semântico-Pragmático apresentam uma fala fluente, adequadamente articulada, sem trocas. O problema central neste quadro é a forma como a linguagem é utilizada, principalmente em contextos sociais (habilidades de conversação socialmente inadequadas). Estas crianças podem desenvolver interesses obsessivos, mas não tão marcados como as pessoas com Síndrome de Asperger.

Infelizmente aqui no Brasil, poucos são os especialistas que reconhecem este quadro. Temos dificuldade inclusive, de encontrar literatura nacional sobre o assunto. Uma avaliação fonoaudiológica minuciosa e específica dos aspectos pragmáticos da linguagem oral é fundamental para se chegar ao diagnóstico diferencial desta condição.

Texto elaborado por: Elisabete Giusti

Referências Consultadas

1. Crespo-Eguílaz, N., Narbona, J. Perfiles clínicos evolutivos y transiciones en el espectro del transtorno específico del desarrollo del lenguaje. Rev Neurol. 2003; 33 (supl): 29-35.
2. Bishop, D.V.M., Chan, J., Adams, C., Harley, J., Weir, F. Conversational responsiveness in specific language impairment: evidence of disproportionate pragmatic difficulties in a subset of children. Develop Psychol. 2000, 12: 177-199.
3. Bishop, D.V.M, Norbury, C.F. Exploring the bonderlands of autistic disorder and specific language impairment: a study using standardized diagnostic instruments. J Child Psychol Psychiat. 2002, 43 (7): 917-929.
4. Coulter, L. Semantic pragmatic disorder with application of selected pragmatic concepts. Int J Lang & Commun Disord. 1998, 33:434-437.
 

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